terça-feira, 29 de junho de 2010

Conversa de espelho

Foto: Carla Palmeira


Duas noites sem dormir.

Um cansaço físico e mental tão grande que o sono é fracionado sendo desfragmentado nas mãos gélidas de Phobetor
*.

Há muito tempo deixei de pensar em mim, esqueci em algum lugar que não lembro, posso ter enterrado quando não mais acreditei que um dia eu poderia dar certo.

Calma!!!! Espera eu concluir antes que vocês tirem conclusões precipitadas.


Trata-se apenas de uma conversa de espelho, acontece que posso mudar o rumo até o próximo parágrafo. O que eu quero que entendam é que uma das poucas coisas que tenho é a minha liberdade de escrever o que sinto, o que penso e ter a possibilidade de partilhar sem interrupções.


Só de pensar que a melancolia, a tristeza, as indagações, as reviravoltas podem servir de alimento para uma solidão irremediada e ter a possibilidade do impulso de uma mudança para melhor, isso me satisfaz.


Infelizmente venho passando por algumas situações que não me deixam caminhar direito, é como uma vez minha mãe falou..."queria poder ter um momento de paz, sem aborrecimentos e preocupações" e subitamente ela virou para mim e continuou..."você não sabe o que é isso, né minha filha?!"

A idade não diz muita coisa, diz somente há quantos anos você está na Terra, a bagagem que você leva diz quem você é, e nem sempre a abrimos com receio de sermos lesados em algo que tem um valor sentimental de grande estima.

Posso ver seu sorriso nos lábios, posso ver sua saúde no corpo, mas se não abre seus olhos, não posso enxergar você.


Boa parte da minha adolescência evitei o espelho, no meu quarto ou no banheiro não o tinha, hoje é um dos meus ouvintes prediletos ao acordar e ao dormir, é nele que mentalizo tudo que desejo, é nele que indago meu comportamento e atitude, é nele que tenho a concretização da magia de ser, de estar e de existir, é nele que confio no que vejo.


Tenho consciência do que devo fazer, porém estou cansada e confesso que não estou conseguindo me movimentar, é como se eu deixasse a vida me levar.


Espero que Morfeu** seja meu companheiro essa noite, pois antes de adormecer o meu reflexo desaparecerá no apagar das luzes...

* É o deus dos pesadelos. Aparece nos sonhos dos humanos nas formas de animais e monstros. Ele é conhecido por Icelus apenas pelos deuses, os mortais o chamam de Phobetor (”phobia”).

** Palavra grega cujo significado é "aquele que forma, que molda", é o deus dos sonhos.

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