quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Mais um dia de tempo curto



No relógio os ponteiros travavam uma corrida desenfreada, aquele corredor após as portas de acesso restrito pareciam intermináveis, queria correr para chegar logo, mas o ambiente não permitia.
Ao chegar, olhei pela porta e nos vimos, ele sentado de olhos apaixonados ao me ver, emocionou-se, meu coração disparou, as mãos começaram a suar e nas janelas da alma a chuva insistia em molhar.
Mudei de assunto, falamos de tudo, de mudanças, rotinas, vontades e entre um papo e outro eu fazia sua barba branca. Aos poucos sua fisionomia se tornava mais saudável, o sorriso no rosto aparecia, o leão guerreiro adormecido acordava com sede de levantar e minha esperança em ter ele logo conosco aumentava mais, breve estaremos rindo a toa e falando besteira.
Sinto o seu sacrifício e as dificuldades que tem suportado, mais estamos juntos passando por isso, o importante é que tudo passa, tudo passará.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Relatos de uma filha apaixonada pelo pai



As lagrimas salgadas e límpidas encheram as janelas da alma e vieram diversas vezes a face na hora da despedida diária quando encerrava o curto tempo de visita.
Foram momentos de apreensão, expectativa, ansiedade e o mais doloroso, foram momentos de reviver lembranças que nos remetem a saudade de alguém que partiu.
O cheiro de éter, os jalecos de cores diversas, os corredores longos, o barulho das rodas das macas passando não nos trazia medo, nos trazia preocupação, passar pelo mesmo processo tudo de novo? O que mais deveria ser aprendido? Com muita fé em Deus e em Nossa Sra Aparecida tudo foi devidamente esquematizado, a quantidade de dias, as horas esperadas, o sacrifício do ir e vir e administrar o tempo,   fomos preparados para enfrentar mais uma delicada etapa com muita parcimônia, dividindo, compartilhando e principalmente emanando amor.
Em um breve momento, em um repentina hora chegou o dia, era no horário do almoço, dia de resoluções de problemas, tarde de calor e sol forte, mudanças, a correria, o desconforto da ambulância, a sirene e a internação. Foram 24horas de muito medo e de incertezas, palavras de conforto e orações fizeram parte da nossa semana.
Amanheceu o dia, a impaciência tentava me dominar, a vontade de estar perto dilacerava o meu eu interior, lutava contra o tempo, paramos, fizemos uma oração e entregamos na mão de Deus a liderança da equipe medica.
Percebi sua presença e daqueles que o acompanhava, sabia que meu pai não estava sozinho, senti sua luz.
Sem notícias e com uma esperança enorme, aguardamos, passaram-se horas eternas, até que no meio da tarde surgi o iluminado, com a voz mansa, um rosto cansado e um sorriso leve no rosto, nos chamou no canto, tirou o celular e nos mostrou o que foi feito, víamos as artérias bombear o sangue, o coração pulsava em um ritmo acelerado e a palavra que nos fez derramar em lágrimas, foi: SUCESSO
Demorou mais 40 minutos, que no meu relógio pareciam horas, abre-se a sala de cirurgia e surge ele, meu pai, homem bom que se fez grande com as jornadas da vida e os leões do percurso.
Aguardamos mais umas "décadas" até poder ver-lo acordar, abrir os olhos ainda atordoado, mas com a certeza em que nenhum momento ele fora abandonado por ti e que ao seu lado uma equipe de luz ainda operava em prol de sua saúde, emocionante o choro que rasgava meu peito.
Sou grata por tudo pelos momentos intensos que estou vivendo desde as minhas primaveras.
Ver-lo bem, lutando pela recuperação é no mínimo valioso. Nosso corpo não é nada diante do que somos capazes de ser. Fé é a palavra de força nesse momento....