terça-feira, 22 de junho de 2010

Mochila sobre a cama


Foto: Carla Palmeira

Mochila aberta sobre a cama, a menina de olhos negros estava disposta a arrumá-la novamente para uma nova jornada.

Entre a cama e o armário o desespero roubou sua noite, eu já havia visto aquela cena mais não havia dado a devida atenção, ela sentou no chão e com as mãos na cabeça começou a chorar copiosamente, não sabia o que fazer, se perguntava milhares de vezes o que fazia de errado para que sempre em algum ponto as coisas não andavam.

Eu esperei, da porta do quarto eu desejava que ela não partisse e ao mesmo tempo sabia que ela precisava ir, teria que fazer algo que sempre foi contra a sua essência, vestir personagens para sobreviver nesta selva de pedras.

Tentei convencê-la a fazer uma ultima tentativa, ficar mais um tempo, manter esses olhos negros brilhando e desejando o possível e o impossível, mais ela não me escutava, a conversa durou muito, o seu olhar determinado mexeu comigo, me fez pensar o quanto eu precisava recarregar as baterias e voltar a fazer planos e se não derem certo continuaria em frente e ia refazer-lo.

Fechei os olhos por alguns minutos e percebi que estava só, e no silêncio sepulcral que cortava a madrugada notei que as nossas jornadas eram iguais e que a mala que estava sobre a cama só seria arrumada quando eu permitisse, que a noite roubada era nossa, que o desespero não estava nela...estava em mim, que as lágrimas escorridas em cada canção escutada eram minhas e que eu sempre fui a menina de olhos negros...

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