domingo, 6 de fevereiro de 2011

Bem vindo ao Mundo Meio Assim

- Boa tarde!
Falou os olhos negros, olhando para a sombra que fazia atrás de você.
- Quais os seus sintomas?
- Sintomas? Você trabalha aqui?
- Sim, sintomas! Não, eu estou por aqui pelos mesmos sintomas que os seus
- E você sabe o que sinto?
- Para estar nesse Mundo Meio Assim? Sei, mas gostaria de te ouvir.
- Se sabes, porque quer me ouvir?
- Porque é o que fazemos aqui, ouvimos uns aos outros
O rapaz parou, colocou a mão no queixo e o acariciou, apertando os olhos e procurando as palavras certas para retrucar. Sem achá-la, silenciou e aguardou ela convencê-lo.
- Posso continuar?
Ele fez cara de que não tinha outra opção, se não, ouví-la
- Posso continuar?
Perguntou mais uma vez, já querendo desistir de falar.
- Pode!
- Ok! O que te trouxe aqui, foi esse buraco no peito, foi o estar sozinho na companhia das suas aflições, foi o seu reflexo, foram as notas desafinadas, foram as palavras em uma tela vazia, foi um grito sem voz, um sorriso amarelo, uma ideia, uma luz que se apagou, desilusões, cobranças, proibições, exigências.
Pasmo, ele a olhou e as palavras ecoavam em sua cabeça fazendo o som penetrar e vibrar dentro de si.
Um silêncio se fez e ele foi ao chão, sentou-se e olhando para o infinito como se estivesse vendo o mar e as ondas a vir, paralisou-se! Ela sentou do seu lado e suavemente sussurrou em seu ouvido:

- Bem vindo ao Mundo Meio Assim e esteja assim, assim e meio!

Nem me pergunte

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Faça-me um grande favor
embaralhe essas letras e faça uma frase
e se não quiser afirmar nada, coloca em uma sopa
ficarão mais saborosas ao flutuar

Sabes qual a resposta para sua pergunta
Sempre soube, desde o momento em que formula para falar
Então, antes que tente te antecipo
Estou do mesmo jeito de sempre

Meus olhos não te dizem?
Que ironia, pois é só vê-lo diante de meu reflexo que faço a leitura
Minha face não mostra?
Que estranho, pois não sinto movimentar os músculos de um sorriso
Meu corpo não exprime?
Ah! Aí você pegou pesado, nem estou de abraços, estou de braços cruzados

Então, se queres me ajudar, finja que não vê
trate como se eu fosse assim
Sabe porquê?
Porque cansei!

Dirá que devo lutar porque sou guerreira, mas os guerreiros também morrem, os guerreiros desistem, os guerreiros abandonam a si mesmo.
Dirá que cuidará de mim como se fosse o seu jardim, mas as pragas atacam jardins bem cuidados, as lagartas destroem as folhas mais verdes e as formigas devastam o que vêem pela frente
Colocará em questão que se cheguei até esse ponto porque não continuar, nem sempre em uma trilha devo seguir se não consigo respirar, nem sempre em uma caminhada devo manter os mesmos sapatos ou as mesma ideias, nem sempre.

Faça-me um favor...nem me pergunte!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sumiram com a toalha que joguei


Um semblante sério voltou a face que sorria e assim se fez a alegria de muitos, se é para derramar lágrimas e silenciar-me diante de tantas coisas, farei.

Desistência? Talvez
Sumiram com a toalha que joguei
Não escuto o gongo soar
Será que sumiram com o som também?

Ontem o gosto salgado que senti entre meus lábios foram interrompidos por uma proibição
Ontem, exprimir o desejo de querer ficar bem foi condenado a masmorra
Ontem, a minha voz foi silenciada e os pensamentos gritavam
Ontem, só foi mais um dia de vários que virão

Permitam-me ao menos chorar sozinha
Permitam-me sumir
Permitam-me recolher-me ao silêncio

Farei o que tem que fazer
e se tiver que me anular mais uma vez?
e se tiver que parar de sorrir?
e se tiver que me fechar novamente?
e se tiver que me esquecer?
e se tiver que seguir as instruções impostas?

Que assim seja! Paciência!!!

Desculpe se decepcionei, mas hoje abandonei tudo e me rendi ao cansaço...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Passarelas

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Muitas vezes andei por aqui e era tentador ver os carros passarem apenas por este ângulo.
Parava e olhava fixamente lá embaixo, o barulho da velocidade ensurdecia-me e como imã sentia a atração, era como se eu tentasse me libertar dos pesares do mundo e a única forma era voar sem ter asas.
A tristeza e a melancolia eram disfarçadas atrás daqueles cabelos negros jogados no rosto dentro de um boné, eram equilibrados em botas grosseiras típica de polícia militar e o vazio das roupas folgadas no corpo escondiam quem estava ali.
Nunca tive coragem de fazer tal besteira, mas pensei e só de pensar torno-me fraca e foi assim que comecei a encarar as rasteiras que são dadas pela vida no intuito de selecionar os fortes.
Ontem atravessei aquela bendita passarela e minha reação foi apenas sorrir, pelo simples motivo que desde aquele pensamento muita coisa aconteceu, cai muitas vezes e levantei na mesma proporção, às vezes cambaleante, às vezes em tropeços, mas levantei.
E agora?
Parece que foi em vão, pergunto-me por quantas vezes terei que passar por isso e ser compreendida por poucos, pergunto-me quantas vezes terei que retornar para concha para que as coisas andem perfeitamente por um lado e pelo outro lado seja apenas esquecido?
Essa é a palavra, cansaço é só isso que sinto
Cansei de ser perfeita, cansei de ser bonita, cansei de ter talento, cansei de ser responsável, cansei de ser filha, cansei de ser amiga, cansei de ser confidente. Só tenho força e coragem de ser mãe, porque ele ainda depende de mim e é difícil se cansar de algo intrínseco em você.
Cansei!
E com isso veio a desistência, o jogar a toalha no meio de uma luta de boxe, o soar o gongo porque caí e não quero levantar, o parar e começar a descer a montanha porque não quero continuar pois a pressão está deixando o ar rarefeito, a garganta seca e os olhos não param de lacrimejar.
Mas mesmo com tudo isso existem pessoas que encontramos pelo caminho e nos mexe, nos faz acordar e se não acordamos pelo menos refletimos, fiz isso, ou melhor continuo a fazer e ainda penso no desafio, porém me jogar daquela caixa d'água e depois ver onde vai cair está me dando medo, um frio na barriga, uma confusão e tudo misturado.
E a dúvida, o "não sei se" está me consumindo na mesma intensidade que o fogo consome o carvão no vento.
Passarelas, ligações que saem de um ponto que você conhece para algo que você quer ir e que te mostram a vida correr lá embaixo.
Que momento eu resolvi atravessar...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Deixe-me

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Deixe-me desistir
Jogar a toalha, deixe soar o gongo
Desistir do que sinto, desistir das minha conquistas
Permita-me desistir de mim

Deixe-me jogar fora os meus textos
Queimar minhas fotos
Apagar o que eu havia pensado para o futuro

Deixe-me não ser mais quem sou
Silenciarei-me em um luto sepulcral
serei viúva de mim

Aceitarei as regras impostas e apenas isso

Desculpe a todos!
Hoje desisto de mim.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

20 km


Foto: Carla Palmeira

Em uma curva desacelerei, vi a seta do velocímetro descendo bruscamente pois precisei pisar no freio.
Um susto, com o coração ainda acelerado percebi que foi um alívio, ou sorte...fazia Sol, os pássaros cantavam e o movimento na rua era ameno, já que tratava-se de 5h00 da manhã. Comigo sempre foi assim, fazer parte de uma mesma história com diferentes coadjuvantes refilmando sem remasterizar.
Ufa! Cansei!
Se os carros que são fortes e precisam de revisão a cada "alguns" mil quilômetros rodados, imaginem nós, meros mortais.
Cheguei aos meus "alguns" mil quilômetros rodados, hora de revisão, parei e não pretendo sair do pátio tão cedo.
Ledo engano!
Tenho receio de pegar pistas irregulares, blitz no meio do caminho, trajetos escuros, ruas sem sinalização, transeuntes irresponsáveis e motoristas insanos.
Com a certeza de que há alguns minutos o pátio vai fechar e inevitavelmente terei que enfrentar, então se é para sair desrespeitarei a velocidade e andarei abaixo do limite, 20 km.
Poderei dirigir calmamente, sem precisar pisar no freio bruscamente, não sentirei a brisa que poderia entrar pela janela, verei as pessoas passarem e não passarei por elas, e qualquer manobra que irei precisar fazer serão analisadas de forma cautelosa e terei tempo de decidir.
É impressionante como a cada revisão o carro volta diferente, mais seguro de si ou será que acostumamos com ele e passamos a ter domínio?
Espero que sim!
Somos carros, alguns momentos desvairados pelas ruas, em outros momentos, passeando pela orla. Podemos estar abandonados em algum pátio ou simplesmente andando a 20 km próximo ao acostamento.
Enquanto vejo passar as imagens em meu retrovisor fico pensando em tudo isso, e o que estar a refletir torna-se presente neste exato momento, um passado que retorna toda vez que resolvo olhar para mim...