Há pouco tempo conheci uma pessoa. Fisicamente ela se parecia muito comigo, confesso que foi bem assustador, às vezes eu tinha a sensação de estar me olhando no espelho.
Ela estava na calçada quando a vi pela primeira vez, sentada e cabisbaixa, franzia a testa enquanto sussurrava lamurias, as pernas inquietas seguiam o ritmo do estalar dos dedos, até que ela percebeu a minha presença e notou que eu a encarava, nesse momento tudo parou.
Ela me olhava, e em seus olhos era perceptível as decepções e a tristeza, desviei por alguns segundos e ela se aproximou, não conseguia emitir nenhuma palavra e também não conseguia sair daquele lugar. Os seus olhos me mediam dos pés a cabeça e sua mente não conseguia entender porque parecíamos tanto.
Enquanto nos observávamos, uma a outra, resolvi fazer a primeira pergunta:
- O que está acontecendo?
Nesse momento um sorriso no canto da boca surgiu e como se houvesse encontrado a resposta para todas as sua indagações ela me respondeu:
- Não sabia até você aparecer, havia me perdido e com essa memória curta nem imaginava quem você era e agora sei que somos uma e que nos perdemos em algum momento. Somos o "Yin" e o "Yang" e separadas somos o desequilíbrio. Tenho estado farta de muitos acontecimentos e imagino que você também, não me sinto plena e por muitas vezes percebo que a solução não passa de atos desesperados.
Haviam passado apenas 40 minutos e parecia que estávamos a horas nos falando, lembrei-me de algumas palavras que escuto sempre e diz mais ou menos assim: "O homem não muda ele melhora". Infelizmente as mudanças nem sempre são bem vindas, mas desta vez eu optei não melhorar, optei desistir de lutar, assumi essa parte esquecida e abandonei a outra sentada na calçada, fiz uma troca injusta, eu sei.
Comecei a indagar algumas coisas, tais como: Sorrisos para quê ou quem? Estou escolhendo esquecer os motivos para sorrir.
E aí vem as perguntas, comparações de muitos: E quem não tem nada e mesmo assim sorri? Não me venha com essa! Não vou ficar feliz em cima da miséria alheia, desculpe, mas a realidade não me conforta, os bons motivos deixaram de existir e aquele óculos cor de rosa está em algum lugar que não faço questão de achar.
Percebi que assim como existem pessoas com vocação para cantar, tocar, escrever, ser mãe, ser pai, entre outras coisas, existem também a vocação para estar sempre em grandes dificuldades, seja ela de ordem física ou emocional, igual aquela música de Tim Mais: "E na vida a gente tem que entender que um nasce prá sofrer enquanto o outro ri.."
Então aprendi que o primeiro passo é aceitar as condições impostas, o segundo é sobreviver (esqueça tentar viver) e o terceiro é não ser mais quem sou, isso! Renegar o que eu achava certo, renegar o que agradava os outros, apenas renegar uma pessoa que sempre fui e assim sobreviver na seriedade de dias ensolarados ou não.
Sobreviver apenas para polir meu diamante e ver-lo viver, ele sim tem que viver cada segundo, ele sim tem que lutar.
Sem mais despeço-me de um mundo recheado de carapaças e visto uma para poder fazer parte da hipocrisia geral.