Estou imobilizada
O que eu escrevo tornou-se uma arma para o meu mistério, aos poucos compartilho o que sou, sem disfarces, sem pudor ou censuras. Me pergunto se devo continuar, se os meus textos tornam-me vulnerável, se nesse momento sou minha própria refém, tento parar, mais o máximo que consigo são alguns minutos sem digitar e mesmo sem um computador, a caneta perturba minha mente tornando-a inquieta e minhas mãos tremulas saem do controle.
Posso considerar um vício?
Os sintomas apontam para uma dependência emocional de ter um cursor piscando aguardando algumas palavras que formem uma história, uma confissão ou apenas divagações de uma noite sem dormir, de um sonho significativo, de uma experiência vivida ou de um desejo repreendido.
Ainda me permito abster de certas respostas, de certos sentimentos e pensamentos.
Diariamente, a razão que possuo briga com a emoção enraizada no meu ser, tenho repensado em minha postura, no que sou, na minha imagem enquanto...imagem, se é que me faço entender.
Aceitei e assumi meu reflexo, a menina de olhos negros, e redescobri que quando posiciono-me a observar ela, saio da história e torno-me espectadora e vejo que para os padrões da sociedade que vivemos sou alguém incomum e que para as anormalidades não existe um único espaço, um único mundo, são mundos individuais que podem ser compartilhados e que infelizmente atrai olhares ameaçadores, repressores e que atingem um canal direto no coração, magoando. E penso, que não acontece quando as palavras são lançadas, elas percorrem outro caminho até que possa chegar nesse músculo que bate involuntariamente e que tem um poder incalculável.
Às vezes me permito ser involuntária, agir no ímpeto, aflorar uma posição de vela de um pequeno barco, deixando-se levar pelo vento e quando não o tiver que o mar me leve.
Estou de malas prontas e o que eu espero?
Sempre me vem a lembrança da infância que quando não sabia o que fazer, arrumava as malas e esperava que alguém viesse me buscar e até hoje espero e esse alguém nunca veio, estou parada repensando, não irei desfazer a minha mochila, mais comprarei um mapa para que pelo menos eu possa decidir para onde irei, pode ser com vento, pode ser no mar, pode ser na terra, pode ser sozinha ou acompanhada, marquei uma data, esperarei o próximo ciclo lunar e assim recomeçarei.
Eu e o meu reflexo...olhos negros ainda fosco e com a esperança de brilhar.