quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O mar engoliu a Lua

Foto: Baixaki


Aproximava-se do ponto mais alto que encontrara.

Cabisbaixa, não por melancolia, por distração mesmo e pensamentos que eram consumidos entre os dedos. Ela caminhava e o vento acariciava seus cabelos, amenizando o calor dos raios do astro rei.

Quando se deu conta estava sentada na balaustrada observando o mar. O azul cristalino havia desaparecido. Pronto! Arregalou os olhos negros e a única coisa que pensou foi: “O Mar engoliu a Lua!”

O brilho prateado não pertencia ao céu, parecia que haviam invertido as posições. O azul preenchia até o horizonte e abaixo dela o cintilante da cor prata a cegava.

Uma beleza sem igual, uma composição harmônica que condizia com seus sentimentos.

A melodia tocada pelas ondas emudeciam a selva de pedra que a cercava. A contemplação era compartilhada, todos fazendo “upload” ao mesmo tempo de um único servidor.

Cada segundo de Chronos era um presente ganho, ela na balaustrada não desejava mais nada, queria somente estar consigo, abria os braços para sentir a liberdade de voar sem ao menos sair do lugar, deixava as cinzas do que passou serem levadas e entre um suspiro e outro permitia-se sorrir internamente, fazendo seus órgãos festejarem.

Ao lado dela pude perceber que somos uma e trazê-la de volta tem sido uma batalha deliciosa de vencer.

Bom, Chronos aproximou-se e informou que para toda contemplação há uma pausa sensata, pegou sua bolsa enquanto ela se despedia e fez ela guardar aquele momento para que sempre fosse presente esta dádiva concedida.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sementes

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Estava ali o tempo todo.

Aparecia naquele jardim quando a seca ameaçava devastar, em meio a tantas flores existia uma rosa e lá vivia a menina de olhos negros que um dia havia fugido, às vezes ela arriscava descer pelas pétalas aveludadas e sabia exatamente onde pisar sem machucar a si, mas de vez em quando um vento forte fazia com que ela se desequilibrasse e se ferisse.

Triste, retornava ao seu lugar seguro. Lá onde as pétalas lhe abraçavam.

O ultimo vento que passou, trouxe uma tempestade que a fez desistir de si mesmo, não por esse vento, mas sim pelo simples fatos de que houve ventos que a devastavam na mesma intensidade e da mesma forma.
Ela havia cansado de tentar e então resolveu desistir, só que existia um jardineiro, aquele que a observava, aquele que chegava de mansinho e não desistia dela.

De tantos ir e vir as pétalas foram caindo e desnudando a única rosa do jardim, sentada sobre as pétalas caídas ela olhou e notou que a seca nunca havia devastado seu jardim, que ainda sim haviam brotos surgindo.

Parado ali próximo, a observar, havia um jovem jardineiro que sabia exatamente "seus passos, conhecia seu erros" e acima de tudo o que seus olhos negros diziam sem que as palavras fossem ditas.

Nesse encontro entre eles, uma semente penetrou em seu coração ferido por tantas ventanias, mas ela seguiu em frente e se afastou pois ainda era dominada pelo medo de estar cometendo mais um erro, negou esse sentimento, pensando que a fragilidade a fazia desejosa de carinho e atenção, como fora diversas vezes.

Em um momento de lucidez, ela resolveu sair um pouco, decidida a desistir de si e dominada pelo simples fato de congelar seu coração ela o reencontrou, no mesmo dia em que a ventania passou.

Ao longe, disse um "oi" com quase adeus.
Não era suficiente para ele, aguardou um momento e solicitou que se aproximasse, sabia que ela não estava bem, sentia isso e assim seguiu com ela.

No caminho, breves conversas e uma luta tentando fazer com que ela desistisse daquela insana ideia de "jogar a toalha", ela o escutava atentamente pensando porque ele insistia, mas mesmo assim tinha vontade de manter a sua palavra. Suas mãos acariciavam seus cabelos e ele continuava a falar e em diversos momentos arrancava sorrisos.

Em sua mente duas perguntas martelavam: "Para que continuar a insistir em algo que lhe fazia doer? Em algo que sempre soube como iria acabar?"

Deu-se um tempo, no suave deslizar suas palavras duras a despertou, calou-se e se rendeu aos poucos, pois estava com medo do que estava por vir, era difícil acreditar quando o que sempre ouvia eram mentiras, mas quando trata-se de reações físicas nem as mentiras se sustentam.

Aos poucos, o jardim recomeça a florescer, o jardineiro continua a cuidar com o objetivo de fazer florescer as suas sementes, as nuvens estão a dissipar para que o sol e a lua sejam vistos com mais clareza.

Sentada em meio a tantos brotos, a menina de olhos negros analisa e consegue estar tranquila, como por poucas vezes pode sentir.

Às vezes creio que as palavras daquele palhaço que a fez sorrir por diversas vezes e que se parece muito com ela tenham surtido um efeito positivo, às vezes faço-me acreditar que aqueles anjos sem asas que passaram perto do jardim e com um breve olhar sobre ela a fez crer que ainda há esperança. E por muitas fezes faço-me acreditar que enquanto as águas doces a cercar e a floresta te proteger, tudo ocorrerá no devido momento, sem pressa, sem receios, sem aflições.

Que assim seja e assim se faça!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Uma tarde dessas...

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O sol se põe diferente a cada dia.

Alguns têm o dom de musicá-lo ao cair da tarde, outros de descrevê-lo em versos e em prosas, e o sentido de algo sublime muda nas mãos de quem o faz ser seu pertence.

No som do atabaque que comanda os passos de uma capoeira lucrativa consegui viajar naquela imensidão a minha frente, o reflexo dos seus raios sob as águas, o vento nos cabelos e a grama abaixo dos meus pés me faziam sublime

Os transeuntes, o barulho urbano e os vendedores sumiam aos poucos e por exatos três minutos, estava somente eu, o sol, o vento, o mar e o canto dos pássaros e por esses minutos pude sorrir por inteiro.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sem nexo em meu mundo complexo

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Um Silêncio
Meus pensamentos não param
Uma única pergunta criou esse alvoroço
Acordo cedo e estou correndo diariamente e literalmente para esperar que esses pensamentos se cansem e calem a boca
Sinto-me como se estivesse diante de uma banca examinadora
Eu, diante de milhares de pessoas, sendo vista. Entre eles o burburinho da avaliação, um "zum zum" sem fim.
Tanta conversinha que torno-me surda, não escuto uma só palavra, aquela agonia preenche o momento, as mãos começam a suar, a cor dos lábios desaparecem, e as pernas incontrolavelmente se tremem, a vontade de desistir vem no exato momento quando tento me posicionar para alcançar aquela porta que vejo ao longe.
Se eu consegui?
Que nada!
Estou paralisada no mesmo lugar na duvida de como agir
Me preocupo de mais e estou fazendo o que minha mãe fazia, estou me superprotejendo
Vou explodir!
Se meu comportamento sair do padrão, farei verdadeiras as palavras de meu pai...Estou desnorteando e provavelmente no centro da rosa dos ventos decidindo entre o sul, o leste, o oeste, o nordeste, o sudeste, sudoeste...
Enfim, tantos caminhos para seguir e eu aqui desejando uma fumacinha ninja para sumir.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Bem vindo ao Mundo Meio Assim

- Boa tarde!
Falou os olhos negros, olhando para a sombra que fazia atrás de você.
- Quais os seus sintomas?
- Sintomas? Você trabalha aqui?
- Sim, sintomas! Não, eu estou por aqui pelos mesmos sintomas que os seus
- E você sabe o que sinto?
- Para estar nesse Mundo Meio Assim? Sei, mas gostaria de te ouvir.
- Se sabes, porque quer me ouvir?
- Porque é o que fazemos aqui, ouvimos uns aos outros
O rapaz parou, colocou a mão no queixo e o acariciou, apertando os olhos e procurando as palavras certas para retrucar. Sem achá-la, silenciou e aguardou ela convencê-lo.
- Posso continuar?
Ele fez cara de que não tinha outra opção, se não, ouví-la
- Posso continuar?
Perguntou mais uma vez, já querendo desistir de falar.
- Pode!
- Ok! O que te trouxe aqui, foi esse buraco no peito, foi o estar sozinho na companhia das suas aflições, foi o seu reflexo, foram as notas desafinadas, foram as palavras em uma tela vazia, foi um grito sem voz, um sorriso amarelo, uma ideia, uma luz que se apagou, desilusões, cobranças, proibições, exigências.
Pasmo, ele a olhou e as palavras ecoavam em sua cabeça fazendo o som penetrar e vibrar dentro de si.
Um silêncio se fez e ele foi ao chão, sentou-se e olhando para o infinito como se estivesse vendo o mar e as ondas a vir, paralisou-se! Ela sentou do seu lado e suavemente sussurrou em seu ouvido:

- Bem vindo ao Mundo Meio Assim e esteja assim, assim e meio!

Nem me pergunte

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Faça-me um grande favor
embaralhe essas letras e faça uma frase
e se não quiser afirmar nada, coloca em uma sopa
ficarão mais saborosas ao flutuar

Sabes qual a resposta para sua pergunta
Sempre soube, desde o momento em que formula para falar
Então, antes que tente te antecipo
Estou do mesmo jeito de sempre

Meus olhos não te dizem?
Que ironia, pois é só vê-lo diante de meu reflexo que faço a leitura
Minha face não mostra?
Que estranho, pois não sinto movimentar os músculos de um sorriso
Meu corpo não exprime?
Ah! Aí você pegou pesado, nem estou de abraços, estou de braços cruzados

Então, se queres me ajudar, finja que não vê
trate como se eu fosse assim
Sabe porquê?
Porque cansei!

Dirá que devo lutar porque sou guerreira, mas os guerreiros também morrem, os guerreiros desistem, os guerreiros abandonam a si mesmo.
Dirá que cuidará de mim como se fosse o seu jardim, mas as pragas atacam jardins bem cuidados, as lagartas destroem as folhas mais verdes e as formigas devastam o que vêem pela frente
Colocará em questão que se cheguei até esse ponto porque não continuar, nem sempre em uma trilha devo seguir se não consigo respirar, nem sempre em uma caminhada devo manter os mesmos sapatos ou as mesma ideias, nem sempre.

Faça-me um favor...nem me pergunte!