Palavras desmedidas sem sentido dão vazão a confissões profundas que crescem sem raízes, mas que se alimentam de sentimentos diversos.
Cultivamos o que semeamos, florescem aquilo que cuidamos, muitas vezes tentam nos convencer com pensamentos opostos para abalar o seu bem estar, para dissolver um sorriso, para que ao invés de brilho no olhar haja lágrimas a escorrer.
É preciso falar, extrair raízes de parasitas que sugam a sua seiva, secando o que há de mais puro dentro de ti.
O não é necessário, o sim, essencial e dizer o que pensa, sem pudores, sem censura, sem animosidade, é pertencer a um grupo quase extinto de fiéis a si mesmo.
As atitudes geram consequências, sejam elas boas ou ruins, somos caçadores do equilíbrio no desequilíbrio da vida que levamos e ainda sim, perdemos tempo comparando a nossa tristeza com a miséria alheia.
Para quê?
Para sentirmos melhor por termos mais?
É hipocrisia sorrir por pensar que o outro está pior que você.
As comparações devem ser feita dentro de sua vivência, escolher entre como você está e como desejo estar é o primeiro passo para novas concepções de vida, as opções se oportunizam e os caminhos aparecem.
Ouço os pássaros, os carros, a campainha tocando, o movimento dos talheres na cozinha, o rádio ligado, os vizinhos gritando, o cachorro latindo e mesmo assim adormeço por alguns segundos em meu leito próxima a janela.
Uma brisa acaricia minha face e junto a ela um feche de luz se esquiva iluminando o caminho até os meus olhos que repousavam.
Calmamente vou me dando conta que estava adormecida, piscando lentamente vou me acostumando com a claridade e ao mesmo tempo percebendo meu corpo, cansada de tantos bombardeios mantenho-me em silêncio, posso ouvir minha respiração e meus pensamentos quase no mesmo ritmo, é tão bom sentir-se assim, ninguém pode me ouvir, posso ter em mente qualquer coisa.
Com os olhos entreaberto vejo através da fresta da janela o céu cinza, mas isso não quer dizer que a ausência daquele azul saturado é um empecilho para apreciar-lo. A luz difusa realça lugares que eu não enxergava quando estava condicionada aos saturados de um dia sem nuvens.
Um arcanjo mandou o recado. Ele que tem o dom da cura e que foi enviado para "ensinai-nos a viver sobrenaturalmente, elevando sem cessar nossas almas, acima das coisas terrenas", trouxe de volta a pessoa que desejava e que havia me conquistado. No romper da madrugada compartilhamos suas palavras e algo mudou em mim, daqui pra frente nada será como antes.
Dominada pela solidão de pensamentos pessimistas, abrindo janelas para sentimentos corrosivos, faziam-me sentir a razão da caixa de Pandora se abrir e todos os males da humanidade fluírem, sentia-me um estorvo tão grande que não havia força para levantar da cama.
A prostração era meu refúgio dos problemas que aconteciam e as lágrimas eram gotas do sabor de entrega. Se é que esse tipo de delação pode ter sabor.
As horas passavam e o silêncio da solidão calava e sufocava aquele músculo pulsante que guardo dentro de mim, tantas razões corriam e buscavam rapidamente recordações dolorosas que rasgavam minhas entranhas e dilaceravam os sentimentos puros, tornando-me uma pessoa que eu não desejava ser.
Sem conseguir distinguir se haveriam motivos ou razão para tal alimento da obscuridade fui dando vazão a voz que vinha do coração e o silêncio calou-se, permitiu assumir erros e tocou profundo.
A dor faz parte de muitos processos, são sucessivas mortes das partes que não lhe cabe mais, é um espaço dado para que se possa mudar o cultivo e assim moldar da melhor forma.
A melodia que ouço tranquiliza um humor inconveniente, as ondas do mar que avistava daquele banco de madeira que a muito não me fazia retornar, acalmam meu espírito e renovam meu ser, não posso viver sem essas ondas que me acolhem, a brisa vinda do horizonte refrescava minha mente e me preparava para o retorno ao trabalho.
O dia não tinha sido bom, o cansaço e o stress chegavam tão rapidamente como um sopro do vento em um dia cinza.
No trabalho ressentimentos inesperados, mais uma vez atingida por grosserias e palavras dolorosas, pelo telefone, a procura de conforto, um bombardeio de palavras ríspidas e acusadoras, as lágrimas imediatamente escorriam a face pasma de um fim de tarde bem estranho.
Fim de expediente, uma impaciência corria cada pedacinho de sua formação física, um respirar fundo para buscar a paz interior e as perguntas inconvenientes viam acompanhada de piadas, de momentos de descontração em cima do aborrecimento alheio.
Um desejo sedento de estar em um único lugar, aquele em que ninguém tem permissão de entrada, a minha própria mente. Enquanto as luzes corriam pela janela do carro, os caminhos levavam ao seu espaço compartilhado por uma família dissolvida, que ainda tem esperanças de recuperação.
O seu olhar dizia que algo acontecera, os movimentos circulares da chave na porta silenciavam aquela noite, passos lentos e subíamos as escadas, enquanto cada um encontrava um cômodo confortável para si, ele precisava sair e com um coração vitimado, enforcado pela aflição, o ar tornava-se rarefeito e a água gélida caia sobre sua cabeça, escorrendo quente e lavando a alma, após sua saída ela dirigiu-se a cama e decidiu aguarda-lo, as mãos tremulas e certa de que não tinha certeza de mais nada.
O telefone toca e do outro lado a frase clássica em que nada está bem..."Não durma, desejo conversar com você". Os minutos passando lentamente e a ansiedade ninava seus pés, os olhos foram vencidos pelo cansaço, as horas correram e a luz do quarto se ascendeu, nesse momento o tormento, as aflições, uma dor no peito abriam caminho para as lágrimas que escorriam uma a uma transformando-se em um rio corrente em dia de chuva.
E foi assim que não dormimos e que os pensamentos desordenaram-se, a imaginação ficou fértil e enraizou, sem flores, sem jardins e um único pedido, faz o que for da sua vontade seja na minha divindade ou na sua e que a resolução seja breve tendo ainda você comigo...
Por motivo de força maior, ao qual não tenho mais condições físicas e mentais de lutar ou me desvencilhar, venho por meio desta, apresentar meu pedido de demissão de um dos cargos que ocupo nesta empresa há nove anos.
Vejo que há muitos desempenhando o mesmo cargo que fora designado apenas a mim naquele momento em que entrei pela porta desta conceituada empresa, vejo também que quando assumo uma postura mais rígida sou denominada de "infantil" e "influenciável", o que me chocou no momento em que soube, mas relevamos para sobreviver. Às vezes me pergunto se estou errada, pois todos divergem das opiniões que tenho, todos tem um modo de ver em que eu discordo, a única a ser apontada, a única em ser julgada, então assumo, pode ser que eu esteja realmente errada e assim prefiro parar de tentar solucionar essa questão, prefiro "abrir mão" para poder continuar nesta empresa conceituada chamada VIDA, ocuparei outro cargo que sei que tenho a capacidade de desenvolver-lo, porém não compete mais a mim.
Mesmo assim, expresso o meu interesse em desligar-me imediatamente e solicito a dispensa do cumprimento do aviso prévio, caso não seja possível devido a urgência, cumprirei até Dezembro.
Sem mais, espero que possa entender a minha decisão que até o momento será irrevogável.
Há pouco tempo conheci uma pessoa. Fisicamente ela se parecia muito comigo, confesso que foi bem assustador, às vezes eu tinha a sensação de estar me olhando no espelho.
Ela estava na calçada quando a vi pela primeira vez, sentada e cabisbaixa, franzia a testa enquanto sussurrava lamurias, as pernas inquietas seguiam o ritmo do estalar dos dedos, até que ela percebeu a minha presença e notou que eu a encarava, nesse momento tudo parou.
Ela me olhava, e em seus olhos era perceptível as decepções e a tristeza, desviei por alguns segundos e ela se aproximou, não conseguia emitir nenhuma palavra e também não conseguia sair daquele lugar. Os seus olhos me mediam dos pés a cabeça e sua mente não conseguia entender porque parecíamos tanto.
Enquanto nos observávamos, uma a outra, resolvi fazer a primeira pergunta:
- O que está acontecendo?
Nesse momento um sorriso no canto da boca surgiu e como se houvesse encontrado a resposta para todas as sua indagações ela me respondeu:
- Não sabia até você aparecer, havia me perdido e com essa memória curta nem imaginava quem você era e agora sei que somos uma e que nos perdemos em algum momento. Somos o "Yin" e o "Yang" e separadas somos o desequilíbrio. Tenho estado farta de muitos acontecimentos e imagino que você também, não me sinto plena e por muitas vezes percebo que a solução não passa de atos desesperados.
Haviam passado apenas 40 minutos e parecia que estávamos a horas nos falando, lembrei-me de algumas palavras que escuto sempre e diz mais ou menos assim: "O homem não muda ele melhora". Infelizmente as mudanças nem sempre são bem vindas, mas desta vez eu optei não melhorar, optei desistir de lutar, assumi essa parte esquecida e abandonei a outra sentada na calçada, fiz uma troca injusta, eu sei.
Comecei a indagar algumas coisas, tais como: Sorrisos para quê ou quem? Estou escolhendo esquecer os motivos para sorrir.
E aí vem as perguntas, comparações de muitos: E quem não tem nada e mesmo assim sorri? Não me venha com essa! Não vou ficar feliz em cima da miséria alheia, desculpe, mas a realidade não me conforta, os bons motivos deixaram de existir e aquele óculos cor de rosa está em algum lugar que não faço questão de achar.
Percebi que assim como existem pessoas com vocação para cantar, tocar, escrever, ser mãe, ser pai, entre outras coisas, existem também a vocação para estar sempre em grandes dificuldades, seja ela de ordem física ou emocional, igual aquela música de Tim Mais: "E na vida a gente tem que entender que um nasce prá sofrer enquanto o outro ri.."
Então aprendi que o primeiro passo é aceitar as condições impostas, o segundo é sobreviver (esqueça tentar viver) e o terceiro é não ser mais quem sou, isso! Renegar o que eu achava certo, renegar o que agradava os outros, apenas renegar uma pessoa que sempre fui e assim sobreviver na seriedade de dias ensolarados ou não.
Sobreviver apenas para polir meu diamante e ver-lo viver, ele sim tem que viver cada segundo, ele sim tem que lutar.
Sem mais despeço-me de um mundo recheado de carapaças e visto uma para poder fazer parte da hipocrisia geral.