quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

20 km


Foto: Carla Palmeira

Em uma curva desacelerei, vi a seta do velocímetro descendo bruscamente pois precisei pisar no freio.
Um susto, com o coração ainda acelerado percebi que foi um alívio, ou sorte...fazia Sol, os pássaros cantavam e o movimento na rua era ameno, já que tratava-se de 5h00 da manhã. Comigo sempre foi assim, fazer parte de uma mesma história com diferentes coadjuvantes refilmando sem remasterizar.
Ufa! Cansei!
Se os carros que são fortes e precisam de revisão a cada "alguns" mil quilômetros rodados, imaginem nós, meros mortais.
Cheguei aos meus "alguns" mil quilômetros rodados, hora de revisão, parei e não pretendo sair do pátio tão cedo.
Ledo engano!
Tenho receio de pegar pistas irregulares, blitz no meio do caminho, trajetos escuros, ruas sem sinalização, transeuntes irresponsáveis e motoristas insanos.
Com a certeza de que há alguns minutos o pátio vai fechar e inevitavelmente terei que enfrentar, então se é para sair desrespeitarei a velocidade e andarei abaixo do limite, 20 km.
Poderei dirigir calmamente, sem precisar pisar no freio bruscamente, não sentirei a brisa que poderia entrar pela janela, verei as pessoas passarem e não passarei por elas, e qualquer manobra que irei precisar fazer serão analisadas de forma cautelosa e terei tempo de decidir.
É impressionante como a cada revisão o carro volta diferente, mais seguro de si ou será que acostumamos com ele e passamos a ter domínio?
Espero que sim!
Somos carros, alguns momentos desvairados pelas ruas, em outros momentos, passeando pela orla. Podemos estar abandonados em algum pátio ou simplesmente andando a 20 km próximo ao acostamento.
Enquanto vejo passar as imagens em meu retrovisor fico pensando em tudo isso, e o que estar a refletir torna-se presente neste exato momento, um passado que retorna toda vez que resolvo olhar para mim...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Consigo ouvi-lo...



Sou capaz de ouvir meu coração bater nas horas de silêncio interno, consigo isolar-me dos barulhos da selva de pedra e faço o diagnóstico que algo não está indo bem. Calma! Fisicamente pareço bem, fora uma pequena cirurgia que insisto em fugir, fora alguns exames que insisto em inventar desculpas para não ir, estou bem! (risos)
Confesso que, até quem não me conhece, ao olhar as janelas da minha alma conseguem me descrever. Ok! Eu sei! Não sei esconder nada! Digo que está tudo bem sem estar, mas sou assim, não insista muito pois estou a revirar meu baú de ideias, contente-se com apenas algumas palavras aqui.
Eu sei que ele sente falta de muita coisa, é claro para mim já que sou eu que o abrigo, mas mesmo assim ele continua trabalhando arduamente e de vez em quando acelera alegremente, mas ultimamente tem chorado bastante, o que eu já estou acostumando.
Infelizmente!
No momento em que escrevo sinto o Sol beijar ardentemente meu rosto, aquecendo minha alma, estou sem escutar, não porque o beijo foi barulhento, porque os ouvidos estão a escutar o mar, as ondas indo vindo, acariciando a areia como se fosse uma mão a deslizar sobre a pele macia.
Ao abrir os olhos, vejo os guerreiros deslizarem sobre a espuma em um balé alucinante, mostrando-me que aquele também é meu lugar e que devo aproveitar e retornar em breve a uma das minhas portas que me leva a liberdade.
Penso que a liberdade é uma sensação, é uma escolha, é uma opção e que posso ter-la em qualquer momento de desejo...

domingo, 23 de janeiro de 2011

A possibilidade de ter asas

Foto: Yvan
Se eu tivesse asas, voaria para longe,
atravessaria o Oceano e
pairava sob ar para apreciar os montes
Se eu tivesse asas, conseguiria seguir o horizonte
e o meu desejo seria apenas uma seta para o alvo,
e o alvo seriam gotas de conquistas
Se eu tivesse asas, bateria forte
para movimentar o que estivesse parado
e sem me preocupar com machucados
me jogaria daqui do alto
Se eu tivesse asas não desceria ao chão
para não receber migalhas de pão
ou correntes nas mãos
Se eu tivesse asas, seria um anjo
e anjos na terra não tem asas
Se eu tivesse asas
apenas as teria.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma carta



Caminhei na areia da praia procurando por ti, vi a marca de seus passos direcionando-se para o oceano, e ao levantar o olhar para o horizonte vi sua carta boiando dentro daquela garrafa cristalina que bebemos na noite passada.
Meu coração acelerou, sabia que tratava-se de mais uma despedida, que por mais que parecesse definitivo você não permitiria tal suicídio.
Na carta dizia:
"Cara menina mulher de olhos negros que brilha ao amar,
Já não circula sangue em minhas veias e as borboleta...ah! as borboletas!
Elas escaparam no ultimo suspiro em que dei
A luz do dia não me incomoda e sabe porquê? Porque minhas pupilas estão sem dilatar, mesmo estando em repouso na minha concha, onde a claridade é quase inexistente.
Deixa estar como estar belos olhos negros, pois eu me perdi para não te encontrar
Negue a esperança de me ver diferente, pois estou diante de ti confessando meu desamor, escolhi a solitude por um tempo.
Sou por mim, carrego mistérios de assuntos incompreensíveis para meros mortais, posso, por muitas vezes, sentir o que sentes independente da distância, posso perceber grandes sinais ao longo do dia ou em meus sonhos, posso fingir não entender para ser menos do que sou e você compreender sem medo.
E assim estou! Dentro da concha, perdida em meio ao mar de possibilidades que me rondam e as únicas palavras que consigo dizer neste momento é o meu singelo: até breve! "

E nesse simples "Até breve!" despediu-se...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O fim de mais um dia

Foto: Marcelo Santana


Venho todos os dias aqui.
A cada dia sinto-me pertencente a este lugar, este cantinho do mundo que me salva com o entardecer no horizonte.
O Sol se despede encostando sua face ardente nas gélidas águas cristalinas que banham o Farol, e nestes segundos de amor sem fim desejo estar nas velas daquele barco que vejo deslizar.
Transeuntes circulam em meu lugar de resgaste, cantam, encantam, conversam, sorriem e miram. Apreciam o pôr do Sol e sentados na grama contemplam o espetáculo de beleza que é pintado diante de si.
Com o olhar perdido, buscam, no ir e vir da maré, em outros olhares um afago, uma companhia para compartilhar momentos sublimes tal qual os segundos do anoitecer pode proporcionar.
E assim surgem palavras que são levadas nas asas do bem-te-vi que eu vi cantar solitário a espera do retorno da sua amada.
Surgem pensamentos de um universo coletivo trazidos pela brisa.
Surgem imagens imobilizadas por piscar de olhos ou imortalizadas em um "click" de uma máquina.
Surgem lembranças de bons momentos e morrem no apagar das luzes com o sabor de consumo entre os dedos, virando cinzas em uma pira natural para renascer no amanhã de outro sol.

E lá se vão as velas com os ventos, deixando-me na margem a observar.
E lá se vão meus pensamentos, deixando-me com a caneta na mão.
E lá se vão minhas ideias, deixando-me com o rascunho.
E lá se vão sem mim...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

As palavras que me sufocavam

Foto: Carla Palmeira

Interessante, posso dizer que é até intrigante como o amor pode carregar tanta contradição no sentir.
Se correspondido ele traz contigo a dúvida, a insegurança e a incerteza de sermos para o outro o que ele é para você.
Se não correspondido ele traz a dor da rejeição, o amargor do não compartilhar o seu melhor, o seu cuidar.
Se inteiro e intenso assustamos e daí vem a consequência da separação de olhares, mas a permanência de palavras soltas sem profundidade, o distanciamento do sentir o toque dos lábios quando as palavras são silêncio de carinho.
Buscamos certos "porquês", incertos "como podo ser", a verdade é que nas vertentes desse sentir não entendemos nada, não há regras ou razão de ser, há apenas o aceitar, há apenas a certeza do que sentes.
E o outro?
Ah! O outro decide o que quer, escolhe se aceita o presente ou renega.
O amor é sublime, quem o sente gosta do que preenche, o amor remexe o seu físico , pulsando o sangue fervente em suas veias, mexe com a pisiquê, deixando-o atordoado, sem o que pensar.
O amor é inconstante, é uma variável em uma equação matemática. Tendo um resultado positivo, em alguns problemas, ou se tornando uma incógnita para ser resolvida por algum PHD.
Para o amor não há razão e sim emoção, lubrifica os olhos e plastifica sorrisos, cria borboletas no estômago e provoca arrepios. O amor é uma droga saudável que vicia.
Até o amor incondicional pode machucar, pode driblar nossa expectativa e esborrachar com um tropeço. A conclusão é que não há direção, não adianta optar pela razão ou pelo retorno a concha. É apostar e pagar pra ver o que pode acontecer.
Sou e estou tanta coisa ao mesmo tempo ou em pedaço de tempo que a intensidade que vivo consegue me fazer feliz estando triste, sorridente estando solitária ou paciente quando dilacerada, mas o cansaço, esse sim, é certo como 2 + 2 são 4, é permanente e temporário.