segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma das madrugadas insones que não costumamos ter


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Olhos nos olhos e um nó na garganta, sua voz ecoava dentro dos seus pensamentos.

Aquela ferida de muitos anos atrás havia se aberto e o aperto no peito a sufocou quando ouviu aquelas fulminantes palavras.

Deitou, enterrou o rosto entre os lençóis e fechou os olhos.

Ele não imaginava o quão longe tivesse ido, a vontade de entender o que se passava, a
insegurança que sentias e a vontade sublime que o amor dele tinha de ajudá-la o guiava para tentar entrar em sua mente através dos seus olhos, rasgava-lhe o peito ver seus olhos e ouvir sua indignação da frustração de não ter conseguido dar o passo desejado, de começar a se sentir incomodado.

Ela sentia perder ele aos poucos e somente por sua culpa, a cabeça baixa era para esconder suas lágrimas, sua tristeza surgia por ter que remexer naquele passado doloroso que desejara esquecer.

Para ela é difícil organizar as ideias para que sejam expostas com clareza e coesão, enquanto ele faz tão bem, diz o que quer e o que sente com uma naturalidade invejável. Dominada por um medo aterrorizante de cometer os mesmos erros e de chegar ao fim da mesma maneira, ela não aguentaria, era fato que se a história se repetisse a sua vida sucumbiria e ela sobreviveria apenas aos dias e as noites.

Olhava para aquela porta do quarto deles como se fosse um portal de outra dimensão, achando que, era a melhor opção para o desejo de sua fuga, uma ida para nunca mais voltar, um querer de deixar de existir, de largar tudo e se reinventar, enlouquecer e nunca mais voltar, substituir papeis, deixando a sua base e sua riqueza maior em suas mãos, sabendo que estaria em boas mãos.

Ela se martiriza pelos seus erros tentando esquecer as feridas da vida, compondo um silêncio sepulcral para que essa dor não seja compartilhada, defeito? Não sei. Não entendo deste assunto, faria o mesmo, guardaria nas gavetas os dissabores para que não despertassem os olhares de pena. Guerreira, e assim como guerreiros, ela tinha seu momento frágil.

Ele tem razão, as coisas precisam ser ditas, expostas e não testadas.

Depois desse tropeço que repercutiu em um refletir o dia inteiro e um não se sentir a vontade consigo, acredito que ela vai rever e montar uma estratégia para esse resgate, trazer a sí mesma com vida e para a vida.

E ele continua a ter razão e é por isso que o amor dela ganha cor, desejos e flores...





domingo, 27 de março de 2011

O Domingo de um outuno chuvoso

Foto: Bloínquês


Um dia chuvoso em pleno Outono e as pessoas evitam sair, mas um filme é a melhor pedida. Aqueles que tem uma companhia, "cobertor de orelha", optam pela pipoca com chocolate quente no sofá de casa e os solitários curtem a solitude em uma sala de cinema.


Um domingo qualquer pode ser o dia mais improvável para se ter alguém nos braços, mas foi assim que três inusitados casais se formaram naquela tarde chuvosa, cada um com vidas diferentes se encontraram em uma sala vazia de um cinema.


Senhores, senhoras e jovens enamorados, a projeção naquela tela não dizia nada, o calor da sala aumentava ao modo que os entrelaces eram feitos em cadeia. Mãos, pernas, braços e beijos ardentes. No escuro de uma sala tudo podia acontecer.


Ao modo que o filme ia chegando ao fim, a melancolia do dia abatia os espectadores, a distância entre os casais iam aumentando, a sala tornava-se fria e os créditos finais iam sendo projetados lentamente na tela, as luzes acendiam informando que era hora de ir embora, sem saber os nomes uns dos outros ou se haveriam próximos encontros, foram saindo vagarasomente. Um silêncio sepulcral dominava os corredores de saída e o dia se findava.



** 62ª Edição Visual do projeto Bloínquês

terça-feira, 22 de março de 2011

Eu e você on line

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Era uma manhã de carnaval e a cidade estava em festa, mas no coração da folia, uma garota de cabelos longos e negros, com um pouco mais que 21 anos, era avistada em uma daquelas janelas que beiravam o mar, sentada defronte ao computador esperava algo de bom acontecer.


As ruas lotadas de foliões, alegres e cantantes e a sua rede de amigos "off line". Melancólica, por causa de um desamor ela não queria colocar os pés para fora do quarto.


Do outro lado do mundo, um garoto também era avistado em sua janela que beirava o mar, cabelos lisos que caiam sobre o rosto e o olhar firme, incansável, mirava o seu computador na esperança de poder conversar com alguém, de ter uma companhia naquela noite fria. Em uma dessas salas de bate papo eles se encontraram. Era fácil, já que no Carnaval os jovens costumam sair de casa e esquecem da Internet. E foi assim que tudo começou...




- Olá! É meio desconcertante conhecer alguém por aqui. Podemos ser quem quisermos, mas infelizmente ou felizmente não consigo criar um mundo em que não pertenço, um mundo sem realidades. Bom, me chamo Akira e você?

- Olá! Concordo com você, não sei nem como me portar por aqui, primeira vez que visito tal site. Estou tão sozinha nesta manhã de carnaval que busquei companhias "on line". Chega a ser o cumulo do vazio que a tecnologia nos proporciona. Bom, me chamo Alice e moro em Salvador.

- Caramba! Estamos bem distante. Moro em Sendai, no Japão. Bonito nome, és tão curiosa e aventureira quanto a história que ouvia de minha mãe ao adormecer, Srta. Alice no País das Maravilhas?



Aquela conversa que iniciou timidamente havia tomado proporções maiores ao passar de algumas horas. Infelizmente, ele precisava se despedir, já passara de 00h00 e enquanto ele ia se deitar, Alice ia almoçar com a família e o pensamento em Akira. Nos dias seguintes, conversavam por horas até ele adormecer. Falavam da família, dos desejos, dos sonhos, da cultura. Falavam de tudo um pouco, era como se conhecessem a muito tempo. Todos os dias no mesmo horário eles estavam a olhar para o computador na esperança de um chamar o outro.

O carnaval havia acabado, a rotina de Alice começara, ela estudava belas artes, fazia balé e tocava violino. Ele era estudante de Engenharia na Universidade de Tohoku e tocava piano nas horas vagas, disciplinado e dedicado como todo descendente de japonês, havia muito tempo que ele voltara com a família para o Japão. A relação dos dois aumentava e um amor incondicional nascia, Alice cantava e bailava em seu apartamento e sua mãe estranhava tal atitude. Ela estava diferente. Como uma pessoa que ela nunca viu poderia ter tanta influência em seu comportamento?


- Oi meu pequeno "sensei" pianista! Como foi o seu dia hoje? Tenho tanto para lhe contar. Terei minha primeira apresentação de balé nesta sexta-feira, quero conversar com você quando chegar, contar como foi e finalmente trocarmos fotos. Quero que me veja bailando como uma bela borboleta. Participarei também de um teste para compor a orquestra de violino, estou tão nervosa, não sei se vou conseguir. É tão bom poder compartilhar com você. Já falei com minha mãe, pedi de presente uma viagem ao Japão, quero conhecer sua cultura, quero que me leve para os lugares lindos de que tanto fala.


- Calma pequena Alice! Está eufórica hoje. Queria muito estar aí para te ver deslizar no palco, brilhar como uma estrela. Não se preocupe, estarei lhe aguardando para saber as novidades.

Estou muito feliz em poder te fazer tão bem e será um imenso prazer recebe-la no Japão. Meu pai é brasileiro e por incrível que possa parecer, ele já trabalhou um tempo na sua cidade (risos). Agora preciso ir, sei que quando chegar será bem tarde aí no Brasil, se você aguentar estarei por aqui conectado. Um beijo na ponta de seu nariz.


Akira nunca havia se despedido daquela forma, Alice desligou o computador bem saltitante e saiu para a academia de balé, pois no dia seguinte era o grande dia.


Era 10 de Março de 2011, Alice se apresentava belíssima no palco do Teatro Castro Alves, em uma apresentação solo. Ao terminar, a unica coisa que desejava era voltar correndo para casa, mas seus pais queriam comemorar, sairam todos, foram ao melhor restaurante japonês e comemoraram como se Akira tivesse com eles.


Chegaram em casa quase de madrugada. Ela tomou um banho frio para despertar e poder encontrar com seu amado, no Japão já era dia e ela não queria perder um só minuto de sua euforia.

Ligou o computador e chamou Akira:



- Cheguei! cheguei!

- Bom dia Srta Alice eufórica! (risos)

- Tenho tanto para dizer

- Que bom! Como foi a sua apresentação? Pode contar. Hoje não fui trabalhar, não estou me sentindo bem. Sensação estranha. Por favor, conte-me tudo.



Alice começou a contar nos mínimos detalhes sem ao menos deixar ele responder, via somente uma "carinha" sorrindo, uns três pontinhos para que ela continuasse e a conversa seguiu, até que do nada Akira havia ficado "off line", não havia se despedido. O que havia acontecido?

Ela parou de falar, o cursor na tela piscando hipnotizava o seu olhar e um aperto no peito lhe incomodava muito. A mesma pergunta ecoava em sua cabeça, o que havia acontecido?

Triste, Alice partiu para a cama e foi tentar dormir, quando amanheceu, como de costume, ligou a Tv e foi tomar café. Um grito rompeu o silêncio da casa, seu desespero era notório, sua mãe tentava entender o que havia acontecido e Alice não conseguia ao menos respirar, só apontava para a Tv, foi quando sua mãe virou e viu que um Tsunami havia destruído Sendai, no Japão, cidade em que Akira morava. Quando ela voltou seus olhos para sua filha, correu. Alice havia desmaiado e teve que ser hospitalizada, pela queda Alice teve que ficar em observação, sua mãe voltou em casa para pegar suas roupas e no quarto, o computador ainda estava ligado, ao se aproximar havia na tela um cursor a piscar, a foto de Akira e as ultimas palavras de Alice na madrugada: "Ainda espero sua resposta" ...

** Edição musical do Bloínquês: "Ainda espero a sua resposta" - (Nx Zero - Onde Estiver)

"2º lugar na 61ª Edição Musical Bloínquês"

quarta-feira, 16 de março de 2011

Saudade consumida



A metereologia anuncia chuva, o calor intenso induz a súplica por uma brisa.

E o que importa se estamos sós?

Achados em uma noite, uma lua a crescer nos presenteando com sua beleza refletida nas águas límpidas do mar e a sugestão de imortalizarmos aquele momento com apenas um registro de lentes ávidas por um piscar.

Os casais dispostos no caminho nos diverte para imaginar, nosso lugar tornou-se varanda de muitos. Observadores mudos passeiam e param fixamente sem emitir quaisquer comentário, pois invariavelmente as suas palavras são incompreensíveis.

Um silêncio e o portal de projeções se abre, um sorriso brota dos lábios, os olhos fixos em ti certamente respondem o que tanto tens dúvida. Foram sementes germinadas depois de tanta dedicação, surgiu para mim como o estalar dos dedos quando se tem uma ideia, uma interrogação que se tornou convicção. Do futuro tenho receio, por sempre começar bem e durar tão pouco. Sinto intensamente com todos os predicados e adjetivos, sou um dicionário de sentimentos grafados, traduzidos em textos intríscecos de palavras mudas.

Sou um barulhinho discreto e ofegante, de quatro letras (uhum), enquanto és um poço de palavras deliciosamente marcadas de perguntas sedentas.

Posso sentir a diferença no querer.

Como poderia ser igual se o nosso lugar é tão seguro quanto o nosso consumo de saudade?

Toda vez que passo por aqui reativam as lembranças. Foi neste pedacinho de mundo que tudo começou e mais uma vez seria aqui que tudo se firmou.
De ontem em diante deixo de pertencer somente a mim e tu deverás consentir em não mais ser único para si, pois estou ao seu lado e o pertencer é mutuo.

Palavras de quatro letras equilibram-se no meu jeito de ser e pertencer a vida, deixemos o que virá e realizemos o que está acontecendo.

Lua, mar, céu limpo e a "meia luz" da madrugada.
Eu, você e mais nada.

sábado, 12 de março de 2011

Desculpa por não ser aquela que tanto sonhou

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Peço desculpas pelas decepções, se não pareço com aquela menina que atendeu você no consultório, se não estou em uma repartição empilhando papel com um emprego vitalício ou no Banco do Brasil atendendo no caixa.
Peço desculpas se não estudei em uma universidade pública, se me formei em uma profissão não reconhecida.
Peço desculpas por não fazer pós graduação em um curso que não me trará benefícios futuros, somente um título.
Peço desculpas por não me vestir de terninho e salto ou por usar maquiagem ao sair, deixar o cabelo crescer e parecer oficialmente como uma mulher de 30.
Peço desculpas por não assistir ópera, apesar de gostar ou ouvir música clássica ao entardecer.
Peço desculpas pelos programas noturnos não incluir jantares em restaurantes refinados.
Peço desculpas por ao brincar com meu filho eu ser tão criança quanto ele.
Peço desculpas por gostar de esportes radicais e não de balé.
Peço desculpas por carregar as suas frustrações, os seus medos e receios.
Peço desculpas por não ter casado de véu e grinalda em uma Igreja cheia de flores pomposas ao som da marcha nupcial ou por não ter escolhido um marido bem sucedido da alta sociedade.

Peço desculpas se tenho alma de artista e se tudo que eu quero é ter a liberdade de ser apenas eu.