Todo fim de tarde é triste.
O crepúsculo tem um tom de despedida.
Vi você caminhar e em um olhar me despedir sem você ver, a bela composição tornou-se melancólica.
Ao seguir para o embarque percebo que os aviões são cargueiros de olhares tristes, pois estão sempre a partir, alguém fica e alguém leva saudade.
Sair naquela tarde foi reencontrar-me mais tarde, estou diferente para mim. O cargueiro de olhares tristes levanta voo e no cair do dia pauso a minha leitura, a criança gruda na janela e enxerga os floquinhos de nuvens em um colchão e um bilhete cai ao chão, nele recebo um recado: "A origem dos nossos males está na comparação".
Para os sonhadores como eu, sempre olhamos o céu afim de encontrarmos respostas, desenhos em nuvens ou no bailar dos pássaros. Estou no céu! E agora me encontro pelo olhar daquele que nos vê diariamente, vejo desenhos em nuvens e o bailar dos pássaros, curtindo as mesmas sensações. O barulho constante das turbinas compõem meus textos até o momento em que não as ouço. Levanto o olhar e um manto de nuvens brancas é estendido, o Sol nos guia para o destino escolhido, aos poucos percorro esse mesmo caminho de diversas pessoas para chegar a algum lugar.
O Sol pela janela desenha no mar formas indescritiveis. Abaixo de nós uma bacia de águas azuis e acima chumaço de nuvens, a cada momento mais distante de tudo os pensamentos ficam soltos, lembranças são guardadas e o tempo a sós são momentos de reflexões. Aceitei minhas imperfeições e identifiquei os meus males.
Estou chegando! Das janelas vejo o laranja derramar-se sobre o branco das nuvens que se completam com o azul do céu, misturando-se em um degradê de despedidas sem fim.
E ao terminar o capítulo ouço:
"Sou o que penso?"
"Sou o que vejo?"
"Meu corpo é do tamanho do meu olhar?"
"Os olhos do poeta tem braços que vão até as estrelas"