segunda-feira, 7 de abril de 2025

Eita que dói!



Hoje fazem 25 anos sem ele, e sinto tanta falta... Tudo lembra a alegria dele,
uma generosidade imensa — para poucos, neste mundão.E se tem uma coisa que ele soube fazer, foi nunca passar por aqui despercebido. Hoje também seria o aniversário do homem que aprendi a admirar com o tempo: um sorriso lindo e uma voz encantadora. Sabia dizer o que você odiaria ouvir, mas era certeiro. Duro, muitas vezes, mas foi com ele que aprendi a ser responsável e cautelosa — até demais. Um homem cheio de medos, mas com um conhecimento vasto sobre muitas coisas. Líder, engajado, justo, charmoso, sarcástico, inteligente. Teve uma infância e juventude muito duras, mas conseguiu mudar sua realidade. 
Hoje, teríamos uma invasão no quarto bem cedinho para cantar parabéns. Teríamos bolo de limão e pudim, Coca-Cola e café. No almoço, bacalhau e conversas sobre nossas aventuras, sobre as histórias do meu irmão, sobre mim... Perturbaríamos minha mãe, e depois você a acalentaria.
Sinto tanta falta de ti. Ainda é muito difícil caminhar sem você. Ainda é muito difícil ser forte para suportar tudo e não sobrecarregar minha mãe. Ainda é difícil tirar da cabeça o seu último suspiro conosco. Ainda é difícil lembrar o quanto lutamos juntos. Ainda é difícil não me culpar, achando que poderia ter feito mais.
Ainda é difícil ouvir Caetano, Gil, Maria Bethânia, Raul Seixas, Sinatra... Assistir a filmes de lutas e mentiras sem ouvir suas gargalhadas. Somos tão parecidos.
Sinto tanto sua falta que choro sozinha. Que silêncio, o aperto no peito. É uma saudade que traz falta de ar, dor no corpo. É uma saudade dupla: não tenho mais você e não tenho mais meu irmão. Desde que Paulinho partiu, seu aniversário virou um fardo. Tentávamos de tudo para que você passasse por ele um pouco melhor a cada ano.
Enfim, Paulinho partiu no dia do seu aniversário. E você, na véspera do meu. Se existir uma outra vida, acho que temos essa dívida... rs


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

A morte - Part1



Parte 1 - A origem

Cercada de crenças, medos e incertezas, a morte tem um peso significativo, seja sobre a vida que levamos, seja na forma como cada um consegue conviver com ela. No Tarot, ela é um Arcano Maior, a décima terceira carta, e traz temor para quem a tira. Seu significado representa transformação, mas nem sempre transformar é ruim. Então, me questiono: quem determina se é bom ou ruim? O que é bom para mim é bom para você também?

Lembro-me da minha primeira perda significativa. Todos aflitos, ouvíamos rumores pelos cantos, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Eu era criança e o assunto era delicado: minha tia havia desaparecido na véspera do aniversário da filha. Como era possível? Uma mãe amorosa simplesmente sumir?

Atrelado à conturbada relação com o marido, ao processo de separação e ao suposto envolvimento dele com agiotas, até hoje não sei bem o que aconteceu. Sempre foi um assunto doloroso. Meu pai não falava sobre isso e carregava muito ódio. Lembro que estava no sofá, já fazia mais de 24 horas sem notícias. Era noite, ventava muito. A jaqueira em frente à minha casa parecia assustadora. Do lado de fora, uma penumbra; dentro, a sala escura. Comecei a chorar, sentia angústia. Naquele momento, em prantos, pressentia que não a encontrariam com vida. Era como se o vento trouxesse uma voz aos meus ouvidos, suplicando serenidade e aceitação pelo que estava por vir. A primeira notícia foi de que haviam encontrado o carro dela em um lugar ermo. Depois, a encontraram. Com sinais de violência. Haviam enforcado uma mulher linda, meiga. Lembro-me de como sua filha se parecia com ela e do quanto diziam que eu a lembrava. Foi meu primeiro contato com a morte. Algo trágico. Nada do que eu havia aprendido sobre a lei natural da vida.

As perdas continuam ao longo da nossa jornada. Pelas estradas dos anos, sejam pets, familiares ou amigos, em algum momento aqueles que amamos partirão. Às vezes, com um adeus e um até breve. Outras, com um último olhar. E, algumas vezes, sem nenhuma despedida.

Perdi meu companheiro de longas jornadas, Kiko. Um cocker spaniel branco com grandes manchas pretas, orelhas escuras e um docinho de cachorro. Odiava todos que não moravam lá em casa (risos). Depois, os filhotes de poodle micro toy. Meu amor, Lolo, um chihuahua que tinha medo de tudo e de todos. E, assim, muitas despedidas.

Meu avô João, de lindos olhos azuis, que xingava por minuto, amava rádio de pilha para ouvir os jogos do Bahia, quebra-cabeça de mais de mil peças, jogar buraco e comer farinha com banana (risos). Minha avó Nair, de sorriso largo e carinho imenso. Uma mulher sofrida pela vida, mas leve no que a vida a tornou. Bolinho de baunilha, suco de laranja, cafezinho doce e um dengo sem fim. Apesar de todas as minhas idas à casa dela, eu sempre passava mal de enxaqueca e tristeza. Ainda criança, um medo que não quero revelar. Alguns anos depois, a recordação dela acamada trazia uma dor que despedaçava meu peito. Já não falava, estava magra, não se movimentava. Seu olhar era triste e eu acariciava seus cabelos ralos. Essa visão nunca saiu da minha mente.

Então, fui crescendo e fui entristecendo. Uma nuvem negra pairava sobre mim. Não aceitava a felicidade. Associava momentos felizes ao prenúncio de algo ruim que estava por vir. A morte acompanhava minha vida desde que nasci, já que meu irmão tinha um problema congênito no coração e participávamos ativamente de seus cuidados. Os médicos lhe davam prazos de vida, mas ele os ultrapassava. Eu me responsabilizava por estar sempre perto dele, pois acreditava que assim o protegeria. Mas, infelizmente, não consegui. Ele partiu no auge da sua juventude, com sede de viver, aos 25 anos.

Desta vez, não aguentei a pressão. Nunca consegui pular daquela passarela ou deixar uma crise de asma me sufocar por completo. Pensava na minha mãe. Não conseguiria trazer mais tristeza para ela, que, no auge do seu luto, segurou todos nós. Eu sabia que ela vivia porque ainda restava eu. Assim, me distanciava. Não aceitava. Impedia que ela me acessasse a cada dia que passava. Vivia um ciclo de autopunição e culpa. Endureci. Neguei a existência de Deus. Neguei a fé. Vivia porque não tinha coragem de morrer. Buscava adrenalina diária. Vivenciei momentos dos quais não me orgulho. Meu silêncio era ensurdecedor, pois as vozes na minha cabeça não se calavam. Uma dor que apertava o peito e me deixava sem ar.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Renúncia?

Neste momento choro e o choro são as palavras desorganizadas que não formam frase, a expressão da dor que sinto sem conseguir montar uma linha de raciocínio compreensível por outros, pois só quem choras sabe o que está acontecendo dentro de si. É um sofrimento em gotas d'água, é um aperto que dói o peito, é a paralisia do seguir em frente e ao mesmo tempo é o que deixamos para trás, é a vontade de estar em um quarto escuro em posição fetal ouvindo o bater do coração, o pulsar do sangue, o som de um respirar mais forte e não sair mais de lá, é se sentir impotente, culpado por permitir que tudo isso impeça de seguir em frente.

Estar em uma semana de alterações hormonais, uma aflição aparente e com todos os motivos de estar assim, um luto que só tem começo, um novo ciclo que está prestes a iniciar e só martela na sua cabeça: "O que você está fazendo com o tempo que tem?" 

Penso se tenho a opção de desistir de tudo, de mim, das conquistas, abdicar das minhas vontades, desejos e percebo que é tão somente vontade, e vontade vem e passa. Desistir nunca foi uma opção, pelo menos pra mim, pois hoje tem um alguém, tem sempre algo, um alento, um conforto, uma palavra que sobressai e faz com que eu continue em frente, que oferece um sopro de vida e não um suspiro de despedida, tem a fé também, que faz a diferença, a fé do invisível, de que por mais que esteja difícil, existe uma chama acesa do que defino como resiliência.

Fico com meus pensamentos, procurando palavras conhecidas que possam chegar perto de significar todos esses sentimentos que estão brotando, busco respostas para o que está acontecendo, peço ao invisível, aos céus, universo, estrelas, lua, sei lá...uma mensagem mais clara, não entendo o que vem pela frente para que precise passar por isso agora, cada um tem suas questões e as minhas não são menores ou maiores de ninguém, não é sobre isso! É sobre como essas questões nos afetam, é sobre mim, é sobre o que vejo, o que sinto, é sobre o famoso botão do "foda-se!" que não consigo apertar.

E assim, dentro da relatividade do tempo, ele passa, as opções reduzem e o que poderia ser escolha é apenas vontade. 


segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Vírgulas

Vírgulas? Pequenas pausas que fazemos durante uma leitura,  uma respiração mais forte ou apenas um suspiro. Talvez um destaque, dando ênfase ao que consideramos importante, relevante. 

Neste suspiro, um respiro, tentando transmitir em voz alta o que é este sentimento. Por muitas vezes, acredito ser impossível e penso em apenas uma palavra que carrega tanto sentimento que muitos temem em dizer e em até ouvir, alguns banalizam e usam sem imprimir a real carga energética que a compõe. 

Ela tem diversas formas, diversas medidas, pode caber em um potinho, pode ser maior do que o infinito,  se é que existe tal grandeza.

Posso escrever poemas, uma música, um texto, posso te dizer baixinho no ouvido ou ao despertar e mesmo assim, será apenas uma palavra forte entoada. Pode ser um mantra, pode ser escrita, pode ser cantada, recitada, pode vir de amigos, mãe, pai, irmãos, filhos, de um olhar, de ações e ainda assim a palavrinha de 4 letras consegue descortinar infinitas camadas do seu próprio existir.

Ofegante, arrepios, medo, um leve desespero de fragilidade e na mente latejando, morde-se os lábios para que, se escapar, não seja cedo ou demasiadamente tarde.

E o que me orbita neste momento? O que meu corpo sente, pulsa, reverbera, se não for o que estou pensando que seja, se não for essa força, acredito que seja algo muito perto, é um vir pra ficar, é um sopro de despertar, é um querer, é um silêncio cheio de barulho e um barulho neste silêncio.

E com os lábios mordidos, com o coração acelerado, friozinho na barriga, arrisco, confio e registro que tudo isso é o meu amor crescendo. Pegou a visão? AMOR.


segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Até breve...


Aceitar a ida de alguém, sabendo que não voltará, aperta o coração de uma forma que escorre a dor pelos olhos. Poucos dias atrás,  um amigo, que mora fora do Brasil, nada sabia do que estava acontecendo comigo e acalentou meu coração contando um sonho que teve... ele começou dizendo: Mandaram eu te dizer que nas próximas semanas você terá uma decisão importante a tomar e que você não pode ter medo do que virá com essa decisão...pois será ela o pontapé da sua vida de cura.

Meu pai lutou bravamente e Deus em sua infinita bondade permitiu dividir os dias com ele, permitiu que eu pudesse cuidar dele, dizer eu te amo todos os dias, fazer massagem nos pés,  ouvir Raul Seixas, Maria Betânia, Chico Buarque e o excepcional Frank Sinatra. Permitiu que eu pudesse literalmente carregá-lo,  dizer que ele não estava dando trabalho e sim oportunizando a filha  cuidar de um pai que tanto cuidou de mim. Era um homem duro muitas vezes, mais um avô de coração mole, apaixonado pelos netos.
Vê-lo sofrer era um martírio...e mesmo assim, o sorriso no rosto iluminava todos ao redor, realizamos suas vontades, uma Coca-Cola gelada em casa, um pudim no hospital feito com tanto amor pela equipe de nutrição e pelo pedido da médica, só gratidão pelo carinho e cuidado.
Agora fica a lembrança do sorriso maroto, de suas piadas de quinta, dos nossos passeios de braços dados no shopping Barra, você de óculos escuro e eu com a farda do trabalho, todo mundo olhando e pensando: "Com toda certeza é golpe, lá vai a novinha com o coroa". Quantas vezes brincamos com os baristas, dizendo que eramos um casal e ao aparecer sozinha, eu dizia que tinha terminado, pois você era muito velho pra mim, eram momentos de gargalhadas.
Você me fez paciente com sua intransigência, me fez forte e independente, me fez ser profissional no meu trabalho e dedicada sempre. Agora temos que continuar essa jornada sem sua presença física, nesta saída triunfal, até na sua partida você se preocupou se já tinha chegado a minha data de aniversário,  foi na véspera (risos). Prometo cuidar do meu chaveirinho, minha mãe que é um ser iluminado, do neto mais velho que mais parece meu irmão,  e é claro que deixo pensar, só que ele me chama de mãe (risos) e dos pequenos, sua fadinha e seu tenente.
Hoje será sempre especial! Uma cerimônia de partida e uma celebração de muita vida.
Te amo!

domingo, 6 de agosto de 2017

Ser avó é fantástico!


É um amor de cuidado, dengo, cheiro, vontades, sorrisos e de muito trabalho para a mãe e para o pai.
Avó é uma cantiga de roda animada, é biscoito de goma na mesa, avó é perfume no ar e pele gostosa com hidratante para cuidar, vó é pudim na geladeira e um banquete a espera de alguém, vó é um sorriso no rosto quando os netos a chamam de “Vovó”. Pode ter muitos netos ou apenas dois, o amor não se divide, ele se multiplica, não há prediletos, há sempre netos.
Sabe aquela vovó que ficava no sofá, assistindo novela com o tricô na mão, enquanto o vovó jogava gamão? Ficou nos filmes antigos, nas histórias infantis, a avó de hoje, se arruma para dançar, frequenta cursos, pulam de paraquedas, andam de bicicleta, fazem ginástica, pilates, Zumba, colocam salto para o baile e tênis para um passeio na orla, vão ao teatro assim como vão ao cinema, as avós de hoje podem até ajudar na criação de seus netos, mais com liberdade de ideias, asas na imaginação, as avós de hoje usam maquiagem e cabelos coloridos, amarelos, pretos, prateados, rosa e até o roxo.
Vivemos outros dias, outra vida, outro mundo, precisamos sim ter um dia para lembrar que somos avôs e avós, necessitamos de respeito, carinho e compreensão. Precisamos da paciência de um sábio e da energia de uma criança, precisamos do amor incondicional de ser mãe duas vezes ou pai, precisamos da bagunça encima da cama, das lutas com dragões imaginários ou dos bailes no castelo de uma princesa.
Quanto mais o tempo passa, rajadas de sabedoria e problemas resolvidos pintam meus cabelos, antes negros, clareiam meus dias e irradiam orgulho ao me olhar no espelho, com toda sinceridade sou uma avó moderna, que joga bola, que empina pipa, que faz cafuné e mima os meus netos.
Ser avó não é só fantástico é simplesmente extraordinário!

Feliz dia dos avós.