quarta-feira, 16 de março de 2011

Saudade consumida



A metereologia anuncia chuva, o calor intenso induz a súplica por uma brisa.

E o que importa se estamos sós?

Achados em uma noite, uma lua a crescer nos presenteando com sua beleza refletida nas águas límpidas do mar e a sugestão de imortalizarmos aquele momento com apenas um registro de lentes ávidas por um piscar.

Os casais dispostos no caminho nos diverte para imaginar, nosso lugar tornou-se varanda de muitos. Observadores mudos passeiam e param fixamente sem emitir quaisquer comentário, pois invariavelmente as suas palavras são incompreensíveis.

Um silêncio e o portal de projeções se abre, um sorriso brota dos lábios, os olhos fixos em ti certamente respondem o que tanto tens dúvida. Foram sementes germinadas depois de tanta dedicação, surgiu para mim como o estalar dos dedos quando se tem uma ideia, uma interrogação que se tornou convicção. Do futuro tenho receio, por sempre começar bem e durar tão pouco. Sinto intensamente com todos os predicados e adjetivos, sou um dicionário de sentimentos grafados, traduzidos em textos intríscecos de palavras mudas.

Sou um barulhinho discreto e ofegante, de quatro letras (uhum), enquanto és um poço de palavras deliciosamente marcadas de perguntas sedentas.

Posso sentir a diferença no querer.

Como poderia ser igual se o nosso lugar é tão seguro quanto o nosso consumo de saudade?

Toda vez que passo por aqui reativam as lembranças. Foi neste pedacinho de mundo que tudo começou e mais uma vez seria aqui que tudo se firmou.
De ontem em diante deixo de pertencer somente a mim e tu deverás consentir em não mais ser único para si, pois estou ao seu lado e o pertencer é mutuo.

Palavras de quatro letras equilibram-se no meu jeito de ser e pertencer a vida, deixemos o que virá e realizemos o que está acontecendo.

Lua, mar, céu limpo e a "meia luz" da madrugada.
Eu, você e mais nada.

sábado, 12 de março de 2011

Desculpa por não ser aquela que tanto sonhou

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Peço desculpas pelas decepções, se não pareço com aquela menina que atendeu você no consultório, se não estou em uma repartição empilhando papel com um emprego vitalício ou no Banco do Brasil atendendo no caixa.
Peço desculpas se não estudei em uma universidade pública, se me formei em uma profissão não reconhecida.
Peço desculpas por não fazer pós graduação em um curso que não me trará benefícios futuros, somente um título.
Peço desculpas por não me vestir de terninho e salto ou por usar maquiagem ao sair, deixar o cabelo crescer e parecer oficialmente como uma mulher de 30.
Peço desculpas por não assistir ópera, apesar de gostar ou ouvir música clássica ao entardecer.
Peço desculpas pelos programas noturnos não incluir jantares em restaurantes refinados.
Peço desculpas por ao brincar com meu filho eu ser tão criança quanto ele.
Peço desculpas por gostar de esportes radicais e não de balé.
Peço desculpas por carregar as suas frustrações, os seus medos e receios.
Peço desculpas por não ter casado de véu e grinalda em uma Igreja cheia de flores pomposas ao som da marcha nupcial ou por não ter escolhido um marido bem sucedido da alta sociedade.

Peço desculpas se tenho alma de artista e se tudo que eu quero é ter a liberdade de ser apenas eu.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Deixa eu ficar aqui por um breve momento

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Posso ficar aqui até o mundo sucumbir
Tenho o céu sobre mim e o vento em minhas mãos
Tenho o Sol a me acariciar e o seu reflexo a iluminar
Tenho escolhas de ser, estar e existir
Sorrir e refletir
Tenho a mim conheçendo meus segredos
e as palavras entre os dedos.

O Aspira

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Acalma-te espírito
Pois nesta batalha diária existirão generais incapacitando seus feitos.

Perdoai
A vida os treinou para isso.

Chorai
Seja por tristeza ou raiva de si
Alegria ou alívio.

Silenciai
Para escutar o que seu coração diz.

Procurai
Aqueles que junto a ti farão dos seus dias, Céu azul e Sol forte.

Erguei
Seu Corpo, pois sentada terás dificuldade de vencer esta guerra.

Escutai
Aqueles que também os critica.

Fazei
Das suas palavras caminhos a realizar.

Importa-se tanto com alguns generais que a sua única reação é calar e deixar os olhos falarem.

Chorai mágoas
Chorai decepções
Chorai frustrações alheias
Apenas chorai para acalmar esta dor no peito e o nó na garganta.

Seja água
Seja vento
E nunca rocha

Seja um mártir
E nunca martírio

Seja o que és e deixe o vento consumir as cinzas de palavras infelizes.

Navegai
Andai
Voai

Deixe de ser as frustrações dos seus generais e seja!

Seja o "aspira" sonhador
Seja o "aspira" sem obrigações para galgar patentes

Seja apenas "O ASPIRA"

quarta-feira, 9 de março de 2011

Domingo de Carnaval

Foto: Helcymar Artoni

Enquanto todos pulam no caldeirão, ela acabara de sair dele.

Ao descer em busca de uma fuga para a sua mente e o seu corpo, os seus olhos foram direcionados ao céu.

É sempre assim, toda vez que procura respostas para perguntas sem interrogações as suas janelas d'alma se abrem para a constelação costurada no manto negro que a envolve.
A paisagem se move pela janela do carro, seus ouvidos deixavam de escutar o que conversavam e neste momento ela pode enxergar adiante, proximo ao seu ponto de chegada, um tímido e belo sorriso. Era um filete dourado em meio ao infinito.

Tudo parou, estava na hora de partir, a noite já tomava conta do seu domingo e assim foram deixados no porto de caixas de pensamentos, onde de hora em hora são transportados dissabores, esperanças, saudades, lembranças, espectativas e solitudes.

Flutuando nas águas furta cor, reflexo da selva de pedras, ela via olhares, tais como aqueles encontrados diante do seu espelho, olhares que guardam segredos de uma vida, cada palavra desenhada em um pedaço de papel qualquer largado em cima do seu violão transmitia os seus pensamentos, e nele estava você.

Pensava na sua cara de bobo ao citar a palavra saudade, na saudade ao perguntar quando iriam se ver, na melodia ao escutar aquela música que em uma noite dessas fez parar o mundo e só vocês estavam a "mergulhar" em um movimento único.

As palavras sumiam de suas mãos e agora sua atenção era outra, o mar deslizava e dançava ao som dos motores e as pequenas mãos de seu príncipe não desgrudava da cadeira, a primeira vez sempre deixa um nervoso com pitadinhas de ansiedade.

Vi, quando suas mãos eram postas em cima das dele e sem palavras ela o tomou em seus braços e o envolveu em um amor sublime.

Chegando do outro lado conversaram, fizeram planos e partiram junto com a cavalaria que os aguardavam.
Entre luar, mar e música, nada a desconectava, tantas voltas e a distância só fazia estar mais perto.

E foi assim que ela retornou, com um olhar saudoso e o sorriso nos lábios.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O mar engoliu a Lua

Foto: Baixaki


Aproximava-se do ponto mais alto que encontrara.

Cabisbaixa, não por melancolia, por distração mesmo e pensamentos que eram consumidos entre os dedos. Ela caminhava e o vento acariciava seus cabelos, amenizando o calor dos raios do astro rei.

Quando se deu conta estava sentada na balaustrada observando o mar. O azul cristalino havia desaparecido. Pronto! Arregalou os olhos negros e a única coisa que pensou foi: “O Mar engoliu a Lua!”

O brilho prateado não pertencia ao céu, parecia que haviam invertido as posições. O azul preenchia até o horizonte e abaixo dela o cintilante da cor prata a cegava.

Uma beleza sem igual, uma composição harmônica que condizia com seus sentimentos.

A melodia tocada pelas ondas emudeciam a selva de pedra que a cercava. A contemplação era compartilhada, todos fazendo “upload” ao mesmo tempo de um único servidor.

Cada segundo de Chronos era um presente ganho, ela na balaustrada não desejava mais nada, queria somente estar consigo, abria os braços para sentir a liberdade de voar sem ao menos sair do lugar, deixava as cinzas do que passou serem levadas e entre um suspiro e outro permitia-se sorrir internamente, fazendo seus órgãos festejarem.

Ao lado dela pude perceber que somos uma e trazê-la de volta tem sido uma batalha deliciosa de vencer.

Bom, Chronos aproximou-se e informou que para toda contemplação há uma pausa sensata, pegou sua bolsa enquanto ela se despedia e fez ela guardar aquele momento para que sempre fosse presente esta dádiva concedida.